1.3.12

Recordei La Rochelle e suas casas de um cinza pálido. Era esse contraste entre o opaco das pedras, o tempo seco do inverno e os arranjos de flores prostradas às suas janelas. A precisão de suas cores e silhuetas sibilinais livrando-as de qualquer incerteza. E esse não ter destreza para dizer.
O domingo na veneza verde sendo quase uma pintura, escrever seria emoldurá-lo em um quadro. Assegurá-lo tela, tinta e contorno, muito menos que os excessos da retina, o espontâneo do corpo, se existe corpo.    E quase existe: uma existência ínfima legado da percepção da sua ausência, porque se escrevo é que corpo me falta. E então fico corpórea. Diante de tanto excesso, preciso urgentemente opor-me ao desperdício. É que essa paisagem, a extensão da rua, exige tanta materialidade, da retina, a concentração do faro: sua excrescência não cabe no meu alinhavo. E fico mais antimatéria. 
E esse silêncio que tornou-se ofício que é também amparo, modula desespero e despreparo. Não me interessa ler fumaça. Quero fuligem fabricada, membros que se articulam ensaiados, o gesto encenado, quero linguagem. Meus sentidos estão amplamente aguçados.