1.8.06

"[...] Mas quem sou eu, recostada neste portão a observar

As vezes penso, (ainda não tenho vinte anos) que não sou uma mulher, mas a luz que cai neste portão, neste solo. Sou as estações, penso às vezes, janeiro, maio, novembro, a lama, a neblina, a madrugada.
Não posso agitar-me nem esvoaçar docemente, nem misturar-me com os outros.
Mas agora, recostada neste portão até o ferro deixar suas marcas nos meus braços, sinto o peso que se formou dentro de mim.
Nem suspiros, nem risos.
Nem volteios, nem frases engenhosas;
O que sou é peso. Não posso esvoaçar docemente..."

(WOLF, Virginia: As ondas, pag 74)