29.11.08

Fico sentada diante da mesa, mergulhada num barulho de tempestade que insiste do outro lado da porta; num silêncio de coisas que vez por outra nos acometem. E sinto aquele antigo impulso, o de ser lançado, inevitavelmente, na multidão das vozes. Apenas para ser quem escuta conversas vindas da cozinha, que não me dizem respeito e não me exigem resposta. A umidade desta tarde, e que será talvez por toda a estação, nos emudece junto, retira de mim qualquer esforço para erguer a voz. Fico insalubre e sufocante, tenho impulsos de chorar. E então sinto minha fraqueza, algo obscura, como os charcos cobertos pelo nevoeiro, como o relógio tiquetaqueando na gaveta (por que tenho o costume de escondê-lo).

27.11.08

Eu vejo o fosso que se esconde num charco, como o fundo de um poço. Minhas retinas como vidros embaçados se esforçam para o alto. Eu estou dentro dele. Estou no inferno. Mais subterrânea do que meus ancestrais, mais profunda que a terra soterrada de pedras, de própria terra e mais, embutida de mato; a chuva e a lama como um prenúncio de morte de um afogar das folhas,

não um afago no chão de asfalto.